Entre Deuses e Colunas: Um Dia nos Templos do Nilo
Das margens de Edfu aos salões de Luxor, um mergulho nas memórias do Egito Antigo sob o sol escaldante e o olhar atento da história.

Diários do Egito
25 de maio – Rio Nilo
Chegada a Edfu e visita ao templo
O Catamarã em que estou fazendo o cruzeiro pelo Nilo aportou no final da tarde de anteontem em Edfu para que visitássemos, ontem pela manhã, o templo que leva o mesmo nome e construído há mais de dois mil anos durante a Reino Ptolemaico. É o único templo duplo egípcio, assim chamado por ser dedicado a duas divindades: um lado do templo é dedicado ao deus crocodilo Suco, deus da fertilidade e criador do mundo; o outro lado é dedicado ao deus falcão Hórus.
O guia insistiu que saíssemos do catamarã, as 06h00, sem tomar café para estarmos presentes na hora que abre as portas do museu, as 06h30. No início não entendi essa exigência, mas ao pegarmos o tuc tuc que nos levou até o morro, onde está localizado o templo, entendi o motivo. Apesar do horário – além de fugir do calor abrasador – foi proposital para poder entrar no templo sendo que a essa hora já havia uma fila enorme de turistas do mundo inteiro aguardando abertura dos portões.
Esse é considerado um dos templos mais bem conservados do Egito e o motivo é que ele ficou soterrado por muitos séculos e só foi redescoberto no século XIX.
Trajeto pela cidade e primeiras impressões
Durante o trajeto do porto até o templo realizado pelo tuc tuc cruzamos com dezenas, senão centenas, de charretes antigas que transportam passageiros confortavelmente sentados no banco traseiro com cobertura.
As charretes têm decorações diferentes umas das outras. Curioso é que ao cruzar a cidade nessa hora parece que parte da cidade não dormiu e cruzamos com gente na rua, os cafés, fumando narguilé e alguns com camas nas ruas sentados lendo provavelmente o Alcorão, o livro sagrado deles. Camas na rua só são possíveis porque aqui praticamente não chove nunca.
Interior do templo e conexões históricas
Logo à entrada a visão que se tem do templo é espetacular uma parede imensa e esse é considerado um dos templos mais bem conservados do Egito.
O Templo de Edfu caiu em desuso como edifício religioso após o edito de Teodósio I proibindo o culto não cristão dentro do Império Romano em 391 d.C. Ao adentrar o templo é perfeito e é um dos poucos que mantém o teto intocado, perfeito todo em pedra. As paredes e os tetos eram todos pintados na sua origem, mas o tempo foi apagando as imagens e as cores.
O que se nota, no entanto, é uma mancha escura no teto e a explicação é que os coptas, cristãos egípcios um dos primeiros do mundo, moravam dentro desse templo e cozinhavam, por isso, o teto enegrecido.
Ao admirar as pinturas e os alto-relevos nas paredes sou obrigado a concordar com Heródoto, considerado o pai da história, que quando da sua visita ao Egito afirmou que as religiões e a cultura original do mundo era egípcia. Inclusive nesse templo você pode ver as três divindades: pai, mãe e filho. O cristianismo é que mudou a mãe pelo espírito santo. Além do mais, nesses templos sempre há, ao redor do nicho principal, nichos laterais dedicados às divindades menores. Essa estrutura é mantida até nossos dias e segue a arquitetura das igrejas cristãs primitivas com nichos para Deus, pai e filho e nichos laterais para os santos e santas da igreja. Lembrando que até a reforma só havia igreja católica romana.
Navegando até Luxor
Antes das 08h00 estávamos de volta ao catamarã. Tomamos café. O navio começou a subir em direção ao norte, mas no sentido de descer o Nilo em direção a Luxor parada final da viagem. Paramos em Luxor às 12h30 e almoçamos a bordo. Luxor foi a capital do Egito Antigo durante mais de dois mil anos portanto, as grandes obras e templos estão aqui nessa cidade considerada patrimônio mundial da humanidade. Lembrando que a atual Luxor era a antiga Tebas renomeada pelos gregos quando assumiram o reinado faraônico com a chegada de Alexandre, o Grande.
Visita aos templos de Karnak e Luxor
Saímos do barco exatamente às 14h30 para duas visitas programadas. Primeiro o templo de Karnak e em seguida o templo de Luxor.
O templo de Karnak é o maior templo do Egito Antigo e sua construção levou aproximadamente 1500 anos para ser concluído entre os anos 2200 e 360 a.C. Provavelmente, o mais espetacular do templo é o Grande Salão Hipostilo. Com mais de 5.000 metros quadrados, contém 134 colunas, sendo que as 12 centrais são mais largas e elevavam o teto, já inexistente, a 23 metros de altura. Acho que esse espaço foi o que mais me impressionou durante o tempo dessa minha visita ao país. Olhando a colunada, que permite fotos incríveis de vários ângulos diferentes, me lembrei do filme inglês ‘Morte sobre o Nilo’, de Agatha Christie, de 1978, estrelado por Peter Ustinov, Bette Davis, David Niven e mais uma penca de atores e atrizes famosos. Tem uma cena em que é tramada o assassinato da herdeira milionária e do alto de uma dessas colunas cai um bloco imenso de pedra. Fiquei imaginando se essa cena se repetisse nos dias de hoje quantos teriam morrido.
Luxor e o calor insuportável
Calor, confesso, hoje estava realmente abrasador e a segunda visita foi para templo de Luxor, situado praticamente no centro da cidade. Na entrada do templo existiam antes dois obeliscos gêmeos.
Hoje só existe um. O outro você pode encontrar em Paris na Place de la Concorde. O antigo rei do Egito trocou o obelisco com um relógio para colocar na mesquita que levava seu nome no Cairo mas, segundo dizem as más línguas, nunca funcionou.
O templo é simplesmente maravilhoso como vocês poderão observar pelas fotos.
Antecipamos a visita, pois, o calor de hoje passou dos limites e até o guia sentou e disse que ele também é humano. Não fiquei sozinho.
Amanhã tem mais.