Hegel, o cavalo branco de Napoleão e o asno do comandante

Diário do ano da peste de 2021
Texto e vídeo de Marcus Ozores
E hoje é terça feira, dia 7 de setembro, dia que outrora as escolas comemoravam a data da independência do Brasil do jugo português. E por algum motivo me lembrei de uma frase do filósofo alemão Frederich Hegel que ao ver Napoleão pronunciou uma frase que entrou para a história:
“Hoje eu vi a razão montanda num cavalo branco”.
E hoje nesse final de tarde de uma terça feira nublada e triste aqui na minha república anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba pensando no que escrever hoje para “Só a poesia nos Salvará”.
Fiquei matutando, matutando o que Hegel diria se vivo estivesse e tivesse assistido ao espetáculo do capitão montado num equus asinus que empacou no córgo do Ipiranga e diferentemente do anunciado pela manhã discursou, durante 5 minutos, frases gastas pelo tempo e pela razão para uma plateia de jacobinos que desde a manhã procurou um lugar na avenida mais emblemática de Sampa e saiu sem entender nada do discurso a não ser que ele, o capitão, não quer ser preso pela segunda vez na vida. A primeira prisão foi quando, aos 32 anos, ameaçou explodir bombas em dois quartéis e está aposentado a bem do serviço público desde os 33 anos.
E foi vendo as imagens da tevê que me lembrei do poeta lisboeta Bernardo Soares nascido em 1890 e falecido em 1935. Bernardo Soares que foi ajudante de guarda livros na cidade de Lisboa era irmão de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos e pelas características ele é mais parecido com seu irmão primogênito, o Fernando Pessoa, pois, carrega as mesmas perturbações e angústias que ele.
Portanto lerei para voces de Bernardo Reis trechos que selecionei do Livro do Desassossego:
“Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa – não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio.
Há muitos em quem o desasseio não é uma disposição da vontade, mas um encolher de ombros da inteligência. E há muitos em quem o apagado e o mesmo da vida não é uma forma de a quererem, ou uma natural conformação com o não tê-la querido, mas um apagamento da inteligência de si mesmos, uma ironia automática do conhecimento.
Há porcos que repugnam a sua própria porcaria, mas se não afastam dela, por aquele mesmo extremo de um sentimento , pelo qual o apavorado se não afasta do perigo. Há porcos de destino, como eu, que se não afastam da banalidade quotidiana por essa mesma atracção da própria impotência.
São aves fascinadas pela ausência de serpente; moscas que pairam nos troncos sem ver nada, até chegarem ao alcance viscoso da língua do camaleão.
Assim passeio lentamente a minha inconsciência consciente, no meu tronco de árvore longe do usual. Assim passei o meu destino que anda, pois eu não ando; o meu tempo que segue, pois eu não sigo.”
“Com a morte? Não, nem com a morte. Quem vive como eu não morre: acaba, murcha, desvegeta-se. O lugar onde esteve fica sem ele ali estar, a rua por onde andava fica sem ele lá ser visto, a casa onde morava é habitada por não ele. É tudo, e chamamos-lhe o nada: mas nem essa tragédia da negação podemos representar com aplauso, pois nem ao certo sabemos se é nada, vegetais da verdade como da vida, pó que tanto está por dentro como por fora das vidraças, netos do Destino e enteados de Deus, que casou com a Noite Eterna quando ela enviuvou do Caos que nos procriou.”
Maravilha de texto.
Adorei.
Congratulation
Nota 10