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O Dia que os caiçaras foram expulsos de Trindade

O Causo da Proeira

Por Priscila Siqueira

No final da década de 70, como consequência da entrega de nossos interesses econômicos e sociais às multinacionais, decorrente da Ditadura Militar de 64, inúmeras comunidades tradicionais de caiçaras foram expulsas de suas praias. Foi o que estava acontecendo em Trindade, bela praia ao norte de Paraty, município fluminense vizinho a Ubatuba. Trindade, ancestral terra de pescadores artesanais, era reivindicada por uma multinacional europeia que dizia ser agora dona de tudo.

Por ordem judicial, os moradores dessa praia foram visitados pela Polícia local que tinha ordem de retirá-los de suas casas. Era uma tarde de muita chuva e frio. Num dos casebres, um policial preto insistia com uma mãe com seu filho no colo que saísse da casa já que esta seria derrubada pelos tratores da empresa multinacional. Ela chorava copiosamente, pois seu filhinho de cerca de dois anos tinha uma febre muito alta. A criança estava com pneumonia.

Aturdida e indignada com o que presenciava, falei ao soldado:

-“Moço, o senhor é um policial negro. Quando tirar sua farda, pode ser até que um dos seus colegas da Policia o confunda com um malandro ou uma pessoa perigosa. Só por conta de sua cor. Já tendo sofrido tantas injustiças por não ser branco, como pode fazer uma coisa dessas com essa mulher?”

Olhando com muita tristeza para mim ele respondeu:

– “Sim é horrível o que estou obrigando essa senhora fazer. Mas tenho de cumprir ordens. Eu também tenho filho pequeno que pode ficar doente e preciso de um emprego para sustentar e cuidar de minha a família”.

Vejam bem, leitores amigos. Um oprimido tendo de oprimir outro ser humano em nome de uma empresa rica, com sede na Europa, com o beneplácito do aparato judicial brasileiro. Quando coisas como essa vão parar de acontecer em nosso País?!…

N.da R.  Leia mais sobre  esse assunto que voltou para a atualidade em  https://editora.cancioneirocaicara.com.br/projeto-de-lei-quer-impedir-pobres-de-frequentar-praia/

2- A História completa da expulsão dos caiçaras de Trindade voce pode ler nesse livro de Priscila Siqueira , Genocídio dos Caiçaras,  disponível para a venda  no link https://www.amazon.com.br/Genoc%C3%ADdio-dos-Cai%C3%A7aras-Priscila-Siqueira/dp/8536659246   e nas boas livrarias.

Priscila Siqueira

Paranaense, nascida em 1939, Priscila Siqueira formou-se em jornalismo na antiga Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Agora aposentada, trabalhou por muitos anos na Grande Imprensa nacional :Agência Folha de São Paulo, Agência Estado (jornais O Estado de S.Paulo, o extinto Jornal da Tarde e Rádio El Dourado) e no jornal Valeparaibano. Como jornalista teve a oportunidade de presenciar a expulsão dos caiçaras - o caboclo do litoral - de suas praias pela especulação imobiliária, decorrente a abertura da Rodovia BR 101, no seu trecho de Santos - Rio de Janeiro. Dessa experiência, surge seu primeiro livro “Genocídio dos Caiçaras“, em 1984. Jornalista especializada na questão ambiental, cobriu a Constituinte do Meio Ambiente de 88. Como ativista ambiental, foi uma das fundadoras da SOS Mata Atlântica, Movimento de Preservação de São Sebastião- MOPRESS e presidente da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro. Em 1996, participou do Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, na cidade de Estocolmo realizado pela rainha Sílvia da Suécia e a UNICEF- Nações Unidas para a Infância. Foi professora na antiga Escola Normal de São Sebastião, além de dar aulas no Centro Universitário Salesiano de São Paulo- UNISAL, e na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo- FESPSP, em cursos de pós graduação lato sensu, sobre a Violência à Mulher, Prostituição Feminina e Tráfico de Mulheres e de Meninas.

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