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Este ditado zen é de uma sabedoria ímpar. Como matar aquele que me fez enxergar o caminho? Mas só matando Buda, você consegue ser livre. Obviamente que este matar é uma metáfora. Você precisa matar internamente aquilo que você considera responsável pela sua evolução. Você precisa matar internamente seus ídolos. Até porque eles também são humanos e, sabemos já, que todos humanos somos cagados.
Quem aparece com a capa de super-homem normalmente é para a capa esconder mais merda. E uma hora, e esta hora sempre chega, vai feder. Não há ninguém bonzinho ou mau demais neste planeta, este maniqueismo só nos adoece e faz os que se dizem bons acreditarem que estão acima e que não precisam mais medir seus atos.Outra armadilha egoica, outro ser que cai no abismo de nossa humanidade.
Ter consciência de nossos defeitos, nossa contraditoriedade, de nosso lado bom e, sobretudo, do nosso lado ruim, nos mantêm humildes e atentos em não acharmos que aquele sentimento, aquele pensamento errado possa estar certo. Spinosa diz que a nossa contraditoriedade nos faz sermos humanos do bem, porque podemos pensar ou sentir coisas até não boas, mas o nosso bom senso impedirá de agirmos, nos tornando contraditórios (quando a ação, o pensamento e o sentimento divergem) por uma boa causa.
Assumir a contraditoriedade, evita você ser hipócrita. Imagina agora pra quem prega amor por uma vida inteira e, num relaxar, mostra a sua face pedófila? Isto é a hipocrisia em sua melhor definição. O Lama foi para lama por se esquecer de que maniqueísmo e heróis nem mesmo em fantasia. Já repararam que quem deixa de lado sua humanidade – com todos os nossos lindos defeitos – vira monstro? Antes ser humano contraditório do que monstro sem pudor.
Liv Soban, colunista da Cancioneiro Caiçara, é jornalista e comunicóloga com mestrado pela UCA , autora dos livros Sociedade nas Nuvens e Encantador de Pessoas
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