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José Dias , o dentista que se tornou modelo de político competente

Por: Pitagoras Bom Pastor Medeiros

Dia 3 de fevereiro de 1929, nascia na pequena cidade de Ervália – Zona da Mata de Minas Gerais-  o menino José Dias Paez Lima, famoso desde jovem, pela sua perspicácia , pelo seu ótimo caráter e inteligência brilhante.

Contou-me seu conterrâneo e compadre, Antônio de Freitas Avelar,- também colega de profissão – que Zé Dentista na sua terra enquanto jovem , tinha o apelido de ” Zé Pica Mula”, por que ele gostava de usar a expressão “picar a mula ” com o sentido de ir embora. Exemplo: – Já esta ficando tarde e eu vou picar a mula pra casa ( vou me embora).Como Avelar, José Dias formou-se em odontologia, na década de 1950, na Universidade Federal de Juiz de Fora. A convite desse seu compadre e quase irmão, veio para Caraguatatuba trabalhar como dentista, em 1957. Naquele ano começou sua ação social.

Contou-me Zé Dentista que a então primeira dama dona Vérmia Moreira Pimenta ( primeira esposa do prefeito de Caraguatatuba de 57 a 1959  Altamir Tibiriçá Pimenta) o visitou e pediu que ele atendesse 10 pessoas por mês gratuitamente.
Prontamente ele atendeu e vem daí seus primeiros contatos com os pescadores, dos quais mais tarde ele se tornou o grande protetor. Recentemente  ele teve Covid , passou por maus bocados, mas se recuperou bem.

Ervália Mg nos tempos que o Zé Dias era jovem

Logo depois dele ter completado  90 anos, em 2019, liguei  para a sua casa. Atendeu sua esposa Neusa.

– Bom dia, Neusa , O Zé dentista está aí?

– Não está, ele foi pescar com seu amigo, Keiti Nakamura ( o famoso médico que também já está beirando os 90 anos) e só volta à noite.

E eu aqui com uma preguiça danada fiquei morrendo de inveja , primeiro porque o Zé também é pescador e segundo porque ainda aos 90 continua com essa disposição de ferro.

Zé o dentista

Detentor de uma excelente técnica profissional para os padrões da época, o consultório do Zé Dias vivia lotado. Não só com clientes de Caraguatatuba, mas até de São Sebastião e Ubatuba que Zé atendia com muita paciência e bom humor. Assim, seu quadro de amigos aumentava exponencialmente

Na década de 1970 ele já tinha um enorme prestígio na cidade. Daí para a política foi um passo . Ao lado de homens do galhardão de Rodoaldo Graciano Fachini (Dadinho) , Antônio Avelar , Sílvio Luiz dos Santos, Dedé Soban e outros, eles começaram a luta para extirpar o primeiro político estrangeiro de não boas referências que dominava a cidade: O Geraldo Nogueira da Silva,  pioneiro dos maus políticos na cidade de Caraguatatuba.

Não conseguiram derrotá-lo, em 1972, mas Zé Dentista , Avelar e Dedé se elegeram vereadores. Dedé resolveu   renunciar porque  achou a Câmara eleita uma merda, já que tinha  maioria  bonequista , mas Zé e Avelar inciaram um fantástico trabalho de oposição que puseram às claras as mazelas do Bonequismo.

Covardemente, Boneca chegou mesmo a agredir a socos na rua, o velho, respeitado e honrado professor Avelar, fato que o Jornal Estado de São Paulo noticiou pelas mãos da grande jornalista Priscila Dulce Dalledone Siqueira. Foi um dos  episódios dos mais vergonhosos, no vergonhoso currículo do senhor Boneca ( agredir um velho e bondoso professor) .

O Político

Em 1976, a turma acima citada lançou José Bourabeby para prefeito e novamente Zé Dias e Avelar se reelegeram, tendo sido eleito também Rodoaldo Graciano Fachini ( Dadinho), que fora candidato a vice de Luiz Pires, em 1972.

Apesar de ter sido eleito pela chapa de Bourabeby, Zé Dentista e Avelar não se calaram, quando precisaram também apontar os erros dessa gestão. Zé Dentista , sendo do partido do governo militar, a Arena, também não temeu denunciar os erros e prejuízos ao erário, causados pelo abandono dos viadutos da Rodovia Rio Santos, no Rio Claro em Caraguatatuba, fato cometido nos governos Geisel e Figueiredo. Zé correu sérios riscos por denunciar esse desperdício de dinheiro público  , mas nem isso o calou.

Suas denúncias foram repercutidas pelo jornal o Estado de São Paulo, novamente através da jornalista Priscila Siqueira.
Aliás, quase semanalmente, Zé Dentista estava nas páginas desse grande Jornal, devido ao seu excelente trabalho .

Em 1981, Zé Dias se Elegeu presidente da Câmara, e ao contrário de outros presidente que costumam mandar vereadores para Congressos de vereadores em outras cidades, a maioria com fins turísticos, José Dias organizou aqui um Congresso da UVESP, União dos Vereadores do Estado de São Paulo, lotando a cidade, numa época de baixa temporada, com políticos de todo o Brasil e com palestras de grandes nomes da política nacional, como Cunha Bueno, e João Carlos Martins ( o maestro), ambos secretários estaduais; Olavo Setúbal, prefeito de São Paulo; Cláudio Lembo, ( mais tarde governador); Professores Jose Goldenberg ( físico ) e Aziz Ab Sabr ( geógrafo),  que foram  dois dos maiores nomes da USP de todos os tempos. Além disso veio o então Senador André Franco Montoro, mais tarde governador de São Paulo e outros gigantes. O evento foi realizado no então moderno clube da Ilha Morena. Eu tive a honra de acompanhá-lo em todos os dias do congresso, quando fui de carona com o próprio Zé Dias , em seu carro particular.

Zé , o  pescador

Embora fosse dentista, Zé Dias resolveu assumir a então pobre Colônia dos Pescadores de Caraguatatuba. Não faltavam em todos nós que acompahávamos a política local a ironia:
– Mas Zé, você não sabe diferenciar o bagre da tainha e é presidente da Colonia dos Pescadores ?

O Zé ria e tocava o seu trabalho.

Contou-me Zé Katira Mendes , Secretário da diretoria da Colônia na administração em que o Zé foi presidente ,que semanalmente,  Zé dava seu próprio veículo , a gasolina, e as demais despesas do seu próprio bolso para que Katira fosse a Santos registrar profissionalmente os pescadores da cidade. Sua primeira conquista para os pescadores foi trazer para Caraguatatuba um escritório da SUDEPE e registrar aqui os pescadores locais. A Colônia Z8 que era paupérrima , ficou sendo a mais rica do Brasil, pois Zé Dentista conseguiu recuperar seu enorme terreno, sito no Indaiá . Lá depois foi construída entre outras coisas a escola da Colônia dos Pescadores. Como político, Zé Dentista conseguiu ainda aprovar uma lei municipal que ainda está em vigor ( embora talvez não esteja sendo respeitada) obrigando a Prefeitura Municipal a servir pelo menos uma vez por semana peixe na merenda escolar e que esse peixe deveria ser comprado dos pescadores locais.

Com a Sudelpa, – durante a administração do Zizinho Vigneron – , no governo Montoro ( de 1983) a 1987, Zé Dias conseguiu a construção de uma fábrica de gelo e de um mercado de peixes para uso dos pescadores no terreno da Colonia . A Sudelpa ainda patrocinou os estudos de batimetria, fase inicial e indispensável no projeto que resultou na construção do Pier do Camaroeiro ( o estudo foi feito pelo IPT).

Com a SUDEPE consegui até um caminhão frigorífico para os pescadores e financiamento para que pescadores artesanais conseguissem comprar seu próprio barco a motor. Lembro me da alegria do Zé Dentista pelo fato do humilde pescador do Ipiranga, Tião Bota ter conseguido seu primeiro barco de pesca a motor, colocando-o em igualdade com os outros pescadores mais bem situados financeiramente ( como os Minato e os Sato). Bota foi o primeiro caiçara do Ipiranga a conseguir adquirir um barco a motor ( década de 1980) .

Em 1981 , José Dias foi para PDS e depois mudou-se para o PMDB, novamente se elegendo vereador e novamente se destacando tanto na vereança quanto no seu trabalho social e comunitário. Em 1988 foi eleito vice prefeito na chapa de Bourabeby, o qual foi cassado , fazendo com que Zé Dias se tornasse prefeito.

 Um vereador que fazia acontecer

Zé Dias sem dúvida foi um dos maiores e melhores vereadores da história do Litoral Norte, por algumas razões fáceis de elencar:

1- Honestidade: Deixou a política mais pobre do que entrou e jamais auferiu vantagem pessoal;

2- Técnica: Foi excelente vereador tecnicamente , liderando CPIs, propondo leis e requerimentos essenciais para a cidade;

3- Coragem: Lutou contra a corrupção e maus feitos em todos os níveis governamentais, chegando mesmo a denunciar ações durante a ditadura militar, embora fosse apoiador desses governos.

4- Trabalho prático como executor :

Diferente dos outros ótimos vereadores que atuaram nas Câmaras municipais, Zé Dentista punha a mão na massa. Gostava de fazer coisas na prática e pode fazer isso muito principalmente através da sua ação na Colônia dos Pescadores. Como vereador, Zé Dias fez mais por Caraguatatuba que muitos prefeitos e principalmente numa época que a cidade não tinha dinheiro.

Eu convivi muito com Zé Dias, quando desde meus 14 anos de idade, ia todos os domingos de manhã à sua casa participar de rodas de conversas sobre política que reunia Zé Dias , Avelar, como personagens constantes e outros como João Paulo ( João Égua), Durval Marques e outros eventuais. O menino aqui estava lá e com esses dois gigantes da política local José Dias e Antonio Avelar pude gozar de grande amizade e adquirir muito conhecimento da nossa história recente.

Pitagoras Bom Pastor

Pitágoras Bom Pastor de Medeiros, é formado em direito e pós graduado em jornalismo digital

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3 Comentários

  1. Grande Zé Dias!
    Grande professor Avelar!
    Boa matéria Pitágoras!!!
    Precisa fazer uma com a Priscila…
    Um abraço!

  2. Muito bom ,o político que não esqueceu o seus amigos que são pessoas como ele, é quer é faz o melhor para eles .Parabens !@

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