Pedro III

Diário do ano da peste de 2021.
Hoje é quarta feira dia 25 do mês de agosto. E hoje a efeméride a ser comemorada é o tal Dia do Soldado data em que se comemora o nascimento do Duque de Caxias considerado o patrono do Exército nacional. E o capitão resolver ser o capitão e ficou mudo. Sim, hoje o capitão presidente foi ao quartel general do Exército em Brasília e se calou durante as comemorações do Dia do Soldado. Não me surpreende nadica de nada. É mais uma encenação teatral do capitão que se omite agora quando – até quando os comandantes de exército achavam que ele ia colocar lenha na fogueira na política nacional-, pois, o capitão está apostando todas suas fichas para as manifestações públicas em apoio aos seus sonhos imperiais no dia 7 de Setembro, em Brasília e São Paulo.
Essa técnica de uma mão no cravo e outra na ferradura já era usada desde quando os gregos sitiaram Tróia
E eu continuo aqui na minha república anarquista dos Tupinambás, de
Barequeçaba, lançando minhas granadas contra o besteirol nacional com o “Só a poesia nos Salvará”.
E hoje por sugestão do meu amigo de infância e douto construtor de castelos imaginários Luis Falcoski que me sugeriu a leitura de um poema do português, prêmio Nobel de Literatura, em 1996, José Saramago nascido em Azinhaga no dia 16 de novembro de 1922 e falecido em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, em 18 de junho de 2010, com idade de 87 anos.
Saramago é o grande renovador da literatura portuguesa do século XX tendo publicado total de 18 romances, 3 livros de poesia, crônicas, livros infantis etc.
Meu amigo Falcoski, me enviou a sugestão e o poema de Saramago intitulado ‘A mim parece-me bem’. E junto com o poema me enviou um recadinho que leio aqui: “Em tempos sombrios de desmontes de patrimônios e bens culturais…. Capanema, Cinemateca, Jalapão, Ibirapuera, etc…. envio esse poema como sugestão de leitura para o “Só a Poesia nos Salvará”, nesses tempos distópicos….”

O primeiro poema que lerei para voces desse gigante da literatura portuguesa foi escrito na sua residência, nas ilha de Lanzarote, em 1996 e tem como título:
mim parece-me bem
Privatize machu picchu
privatize-se a Capela Sistina,
privatize-se o Pártenon,
privatize-se a Catedral de Chartres,
privatize-se o Descimento da Cruz,
de Antonio da Crestalcore,
privatize-se o Pórtico da Glória
de Santiago de Compostela,
privatize-se a Cordilheira dos Andes,
privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu,
privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei,
privatize-se a nuvem que passa,
privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno
e de olhos abertos.
E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar,
privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez
a exploração deles a empresas privadas,
mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvação do mundo…
E, já agora, privatize-se também
a puta que os pariu a todos.
RETRATO DO POETA QUANDO JOVEM
Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.
Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.
Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tato,
Um ansiar de sede inextinguida.
Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história

