Notícias

E a história se repete

Diário de Pindorama

 

 

Diário de Pindorama, 28 de fevereiro de 2022, segundona de Carnaval e continuo com o “Só a poesia nos Salvará” liderando a galera contra o hospício geral que se abriu em Terras Tapuias. E por isso continuo isolado aqui na minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba parentes distantes dos Tapuias.

E não é que o velho barbudo continua tendo razão, 170 anos depois de ter escrito o memorável texto ‘18 Brumário de Luiz Bonaparte’ conhecido mundanamente como pequeno Napoleão, o sobrinho do grande Napoleão. O velho barbudo escreveu: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
A lembrança dessa frase do velho barbudo me ocorre quando a Rússia e Ucrânia não chegaram a um acordo de paz , na tarde de hoje e com o anúncio do Japão – se arvorando como novo senhor da guerra do Oriente – e enviando armas para a Ucrânia.

Esse clima ‘non sense’ que paira no ar – desse mundo globalizado e desmemoriado – me transporta para Sarajevo, a capital da Bósnia, na manhã do dia 28 de junho de 1914, quando o sérvio Gavrilo Princip, jovem tuberculoso e com apenas 19 anos e integrante do grupo separatista Mão Negra, disparou duas vezes seu revólver de pequeno calibre. O primeiro tiro atingiu o peito do herdeiro do império austro-húngaro, o arquiduque Francisco Ferdinando. O segundo disparo de Gavrilo atingiu mortalmente a duquesa Sofia, esposa, de Francisco Ferdinando.

Exatamente um mês depois desse atentado, no dia 28 de julho de 1914, após incontáveis reuniões para tratativas de paz sem se chegar a um acordo, as principais potências europeias – incluída a Rússia ai – teve início a Primeira Guerra Mundial deixando um rastro de mais de 40 milhões de mortos.

Refletindo sobre esse estado de tensão que vivemos nesse mundo globalizado , que nem nossos sonhos são poupados mais , escolhi hoje para ler o poema intitulado ‘Ás 5 horas da tarde’, do grande poeta espanhol Federico Lorca, fuzilado no entardecer da cidade de Granada pelas tropas do generalíssimo Franco. Lorca foi uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola.

] ÀS 5 HORAS DA TARDE

Às cinco horas da tarde.
Eram cinco da tarde em ponto.
Um menino trouxe o lençol branco
às cinco horas da tarde.
Um cesto de cal já prevenida
às cinco horas da tarde.

O mais era morte e apenas morte
às cinco horas da tarde.
O vento arrebatou os algodões
às cinco horas da tarde.
E o óxido semeou cristal e níquel
às cinco horas da tarde.

Já pelejam a pomba e o leopardo
às cinco horas da tarde.
E uma coxa por um chifre destruída
às cinco horas da tarde.

Os sons já começaram do bordão
às cinco horas da tarde.
As campanas de arsênico e a fumaça
às cinco horas da tarde.
Pelas esquinas grupos de silêncio
às cinco horas da tarde.
E o touro todo coração ao alto
às cinco horas da tarde.

Quando o suor de neve foi chegando
às cinco horas da tarde,
quando de iodo se cobriu a praça
às cinco horas da tarde,
a morte botou ovos na ferida
às cinco horas da tarde.

Às cinco horas da tarde. /
Às cinco em ponto da tarde.
Um ataúde com rodas é a cama
às cinco horas da tarde.

Ossos e flautas soam-lhe ao ouvido
às cinco horas da tarde.
Por sua frente o touro já mugia
às cinco horas da tarde.

O quarto se irisava de agonia
às cinco horas da tarde.
A gangrena de longe já se acerca
às cinco horas da tarde.

Trompa de lis pelas virilhas verdes
às cinco horas da tarde.
As feridas queimavam como sóis
às cinco horas da tarde,
e as pessoas quebravam as janelas
às cinco horas da tarde.
Ai que terríveis cinco horas da tarde!
Eram as cinco em todos os relógios!
Eram cinco horas da tarde em sombra!

A Hidrel Hidráulica e eletrica apoia a Cancioneiro Caiçara

Pitagoras Bom Pastor

Pitágoras Bom Pastor de Medeiros, é formado em direito e pós graduado em jornalismo digital

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo