Os Diários do Ozores

Hamlet , Putin e o cheiro de guerra mundial no ar

Diario de Pindorama

Texto, vídeo e locução de Marcus Ozores

Diário de Pindorama, 7 de março de 2022, uma segundona de final de verão , assim esperamos,  e eu dou continuidade ao “Só a poesia nos Salvará” devidamente instalado no meu apê situado no bairro dos coxinhas paulistanos, no coração de Higienópolis.  Hoje fui a Paulista e constatei, após quase dois anos, que Sampa continua a mesma amada e odiada tudo ao mesmo tempo.

A guerra lá pelos lados europeus continua em compasso de espera e entra no seu 12º dia de batalha e a pressão da OTAN contra o regime de Moscou continua escalando , sendo que agora o organismo internacional e intercontinental, já que seu grande patrono é os EUA, se prepara para admitir a Ucrânia entre seus membros , num claro desafio a Pedro, o Grande e em favor da guerra. É isso que podemos ler, já que por força de legislação, os países europeus não podem declarar guerra a Moscou. pois Ucrânia não é filiada a OTAN. ]

Caso Ucrânia seja incluída através de mecanismo  obscuros, a guerra que, no momento está localizada, pode assumir caraterização universal e o planeta deverá assistir atônito um banho de sangue.
como um ornitorrinco – que tem hábito viver solitariamente – eu tenho insistido que o clima europeu, atiçado pela batuta do Tio Sam, é favorável por Uma guerra ampliada e o cheiro de charutos no ar lembra os cafés de Paris, Londres, Munique, Viena em junho de 1914. Torço para estar totalmente equivocado.

Busco hoje na poesia de Boris Pasternak, nascido em Moscou a 29 de janeiro de 1890,  e que fez parte da chamada Era de Prata da poesia russa. Ele  foi um dos parcos a sobreviver aos expurgos stalinistas. Seu livro Minha Irmã, Vida (1922) , foi uma das coletâneas de poemas mais influentes do século XX em seu país. Seu romance ‘Doutor Jivago’ rendeu-lhe o Prêmio Nobel em 1958, o qual foi obrigado a recusar. O romance foi levado para as telas em 1966 tendo Omar Sharif e a atriz  Julie Cristie nos papéis principais. O filme de mesmo nome do romance foi indicado para 10 Oscars e    acabou abocanhando 5.

Em tempos de guerra vou ler de Boris Pasternak o poema Hamlet uma , releitura de Pasternak para os tormentos do príncipe Hamlet, assim como
Putin está atormentado nos dias de hoje.

Hamlet

Por Boris Pasternak

O murmúrio cessou. Subo ao tablado.
Apoiado ao umbral da porta,
Procuro distinguir no eco apagado
Os desígnios da minha sorte.

A penumbra da noite me devassa
Por trás de mil binóculos iguais.
Se for possível, Abba, meu pai,
Afasta de mim essa taça.

Amo a Tua obstinada trama
E aceito o papel que me foi dado.
Mas agora representam outro drama.
Ao menos dessa vez, deixa-me de lado.

Mas a ordem das cenas foi prevista
E a estrada chega fatalmente ao fim.
Estou só. Tudo afunda em farisaísmo.
Viver não é passear por um jardim.

Boris_Pasternak_at_his_Peredelkino_dacha_1958 – Monzigote, Wikimedia Commons

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo