A História do Fandango do Camaroeiro, o bairro mais festeiro de Caraguatatuba

Hoje , dia 30/10 , o Camaroeiro retoma sua tradição musical com encontro de musica e arte
Por Pitagoras Bom Pastor Medeiros
Hoje 30 de outubro, pela segunda vez esse ano, o Fandango, a tradicional música caiçara e as artes que o acompanham , como artesanato, principalmente luteria de instrumentos musicais caiçaras, volta a ser o centro de atenção no bairro caiçara mais central de Caraguatatuba, o Ipiranga e a sua praia, o Camaroeiro. È o projeto Memória Caiçara, idealizado pela jovem atriz Bruna Guimarães Prior e pelo maestro do Fandango Ostinho de Ubatuba , com assessoria local da comunidade caiçara, especialmente da escritora Iracema Ceminha Mendes e da artesã Aneglica Santos, Neta dos principais responsáveis pelas festas de antigamente, seu avô materno, o Tião Izidoro , o festeiro e seu avô paterno, Chico Vitorino, o músico que comandava a parte musical. Chico era pai de Anselmo 7 cordas, que mais tarde formou com Joãozinho do Cavaco, Tião Messias, Tião Bota, Marcilio, Dito do Cavaco, Pedro Cesar, Gabriel Lemes e outros , o famoso grupo Caragua Samba Show. Também foi ali no Ipiranga que nasceu Leopoldo Louzada, o líder da Congda de São Benedito
Foi ouvindo os solos da rebeca de Dito Eusebio e a viola de Chico Vitorino, caiçaras do Camaroeiro que tocavam choro de ouvido, que esses músicos se inspiraram . Anselmo , menino já tocava com seus pais. Tião lembra que antes de ser chorões eles tocavam chamarita e outros ritmos do fandango

MUSICA E MÚSICOS CAIÇARAS DO CAMAROEIRO
Tião disse que naqueles idos, o Ipiranga era um bairro muito musical. Havia a folia de Reis cujo mestre era o Nego Saruba, pai do pioneiro baterista Toninho Saruba, – o qual mais tarde tornou-se um personagem folclórico na cidade famoso pelo uso abusivo da cachaça, o que o tornava engraçado. Aliás foi esse abuso de álcool que tirou Toninho Saruba da música.
Mas havia lá um grupo musical de ótimo nível para os padrões da época. Tão bom que era o grupo que tocava na rádio e fazia inclusive o acompanhamento do Programa de calouros da então recém inaugurada “Rádio Oceânica”. O líder do grupo era Francisco Colombino do ERspírito Santo, o Chico Vitorino, tocador de viola e pai do Anselmo 7 cordas, que também começou a tocar nesse conjunto como violão. No outro Pandeiro havia o Joaquim Pinguinha. No cavaquinho ou machete , era o Arlindo do Prado , o Canhoto, – mais tarde bumbeiro da banda Municipal. O Cantor era Dito Cambeba.

O baterista Toninho Saruba, tocava com eles e também o João Carlos Zenko, ( na opinião de Tião – que também toca percussão- é até hoje o melhor baterista de Caraguatatuba que ele já viu tocar). Havia também o Antônio Eusébio, na Rabeca e o Mario Baixinho no surdo.Foi acompanhando esse grupo que Tião Purissa se interessou pela música. Nego Saruba na congada era o Rei do Trono, lembra Tião. Estamos falando dos anos de 1950 e de 1960, naturalmente que todos esses personagens eram caiçaras puríssimos e viviam da pesca.
No final da década de 1970 , inspirados no grupo anterior, o jovens caiçaras criaram o Caraguá Samba Show, que fez muito sucesso na cidade tocando na Praça Cândido Mota aos domingos. A primeira formação era essa: Purissa no cavaco base; João Santos cavaco Solo Anselmo 7 cordas no violão e depois Marcilio do Bandolim. Fernando Messias do pandeiro, Tião Bota e Gabriel Lemos na Percussão . etc.. ( todos músicos caiçaras purões do Ipiranga, com exceção de Marcilio que nasceu na fazenda dos Ingleses).
Poema Homenagem
Em janeiro 2021, com Tião Purissa e Anselmo doentes pela Covid, a qual causou a morte de Anselmo, fiz essa pequena homenagem aos músicos antigos do Ipiranga em forma de verso que ficou assim:
LÁ VEM CHICO VITORINO
Poema de Pitágoras Bom Pastor
Ilustração: Angelica Santos Izidoro e Vitorino.
Lá vem Chico Vitorino ,
Com samburá de pescado,
Na praia Maria o espera,
Com Anselmo do seu lado.
Bença pai, corre o menino,
E abraça o seu velho pai.
Corre , pega o violino ,
O Samba vai “começai.”
Chame lá Nego Saruba,
Chame la o seu tio Antônio,
Até Zé Pinto na tuba
Podia vir pro harmônio.
Lá vem o Dito Purissa,
Trazendo o Tiaozinho.
O Chico logo lhe atiça ,
Vá treinar no cavaquinho.
Chega seu Arlindo Canhoto,
João Carlos , bateria,
Na caso do seu Izidoro,
Já armaram a folia.
Chame seu Nenê do Neno,
Tiao Bota e Katira
Vem a menina Ceminha
Bem vestida de caipira
Chega Tião Mariano,
Também Dito Camaroeiro,
Corre , chame Artami,
Esse prefeito Festeiro.
Tamos nos anos cinquenta
Caraguá era alegria
Todo dia tinha “Choro”
Bem depois da pescaria
O peixe que enche barriga,
Mas alma enche a POESIA.
O Caiçara que se preza,
Não despreza a cantoria.
Pitagoras Bom Pastor 16/01/2021
A Programação de hoje

Pitágoras, como esse resgate que você faz dos nossos queridos caiçaras enriquecem a nossa cultura. A história de cada um desses personagens relatada por você tem espaço para um filme, recheado de música e da união das famílias da comunidade do Ipiranga. Ali há afeto e cumplicidade entre os moradores pescadores, artistas e artesãos. Sua poesia enobrece ainda mais os seus relatos históricos. Parabéns Pitágoras!