Menina do Tinga lembra catástrofe Caraguá de 1967

Crônica de Maria Antônia de Medeiros

Eu era uma menina, mas não me esqueço nunca. Foram 3 dias de chuvas torrenciais, naquele março de 1967, em Caraguatatuba. Há 3 anos nos morávamos na chamada chácara do Padre no Tinga. Nossa casa era exatamente onde é hoje o prédio da Emef Lúcio Jacinto dos Santos.

No segundo dia a noite escutávamos estrondos muito altos . Mamãe, dona Maria Benzedeira do Solon, pediu pra todos se ajoelharem e rezar . Ela já havia dito antes disso que sonhara com a catástrofe e a realidade,era igual ao seu sonho-premonição. Maria Benzedeira era muita reconhecida em Caraguatatuba por suas rezas e mezinhas, ´pois atendia a mais de 10 pessoas por dia de graça .
Moradores de perto do morro desapareceram e muitos vizinhos ficaram sem suas casa
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Meu pai, seu Sólon, tinha quase 68 anos . Ele tinha ido pra São Paulo para receber sua aposentadoria de Ferroviário da Central do Brasil, porque não tinha banco do Brasil em Caraguatatuba naquele tempo. Só havia, Banco Novo Mundo.
Quando acordamos, no fatídico dia 18 de março, víamos as árvores descendo juntamente com pedras imensas, eu tinha 10 anos e não me esqueço de nada.

As pessoas que moravam perto do morro, desapareceram e muitos vizinhos nossos ficaram sem suas casa . Minha mãe abrigou 8 famílias em casa, ficamos todos muito apertados, porque a casa era pequena, mas bem, porque sãos e salvos.
O prédio da atual Escola Canopi foi Pronto de Socorro, abrigo pros flagelado e alojamento pros militares
A ponte perto da Santa Casa que dava acesso ao centro da cidade foi carregada pela força da água do Rio Santo Antônio. Havia o prédio construído para ser a Escola de Caça e Pesca com vários salas vazias que abrigou muita gente, pessoas feridas famílias desabrigadas e serviu de alojamentos pros Bombeiros da Militares .
Depois da catástrofe ele abrigou os alunos da Escola do, Tinga por um tempo (antecessora da Escola Eduardo Correia da Costa), já que o prédio anterior, situado dentro da fazenda Poiares, perto da Capelinha do Tinga foi invadido pela lama. O prédio da projetada Escola de Caça e Pesca ainda existe, fica na rua Matogrosso, – que era prolongamento da Rua Mal Deodoro, era caminho obrigatório pra nós do Tinga ir à cidade naqueles tempos- n° 900. Lá funciona atualmentes a escola Canopus. O imóvel é o mesmo. Só está bem cuidado e reformado. Ele pertence à Colônia dos Pescadores Z8 de Caraguatatuba . Lá também havia um Pronto Socorro.

Tia Rosa, era um enfermeira carioca que era amiga da mamãe. Ela estava morando em casa e foi trabalhar como voluntária lá, chegou até a namorar com um bombeiro que toda noite ia nos vistar em casa. Eu ia com ela prá ajudar todos os dias, porque as aulas foram suspensas
A Comida acabou até no armazém do Rui Barbosade de Moura
A comida, que meu pai comprava de saco de 60 kg, acabou lá em casa e o armazém do seu seu Rui Barbosa de Moura , ali na Avenida Rio Branco no Indaiá que vendia fiado para nós também esgotou seu estoque. O jeito foi eu, e as pessoas que estavam, em casa buscar doações no centro da cidade. Para chegar até lá, era necessário atravessar em uma corda amarrada de um lado ao outro pelos bombeiros. Eu era muito pequena, então eles me pegavam no colo pra atravessar.
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Meu pai de 68 anos, veio de Ubatuba a pé no meio da lama
Meu pai, que estava em São Paulo, quando soube da catástrofe ficou desesperado e procurou ajuda no Exército prá vir pra embora. Dormiu lá uma noite e veio num avião DC3 da FAB até ( Essa Foi a primeira e única vez que ele, nascido em 1899, viajou de avião).

De Ubatuba ele caminhou a pé até a nossa casa. Mamãe estava desesperada e chorando muito, Afinal, toda hora alguém dizia que tinha ônibus soterrado na serra, rezávamos muito com ela. Foi uma alegria e muito choro quando o papai chegou em casa com lama até na cabeça. Eu era uma menina, mas não me esqueço de nada.
Eu era uma menina. Tinha apenas 10 anos, mas não me esqueço.
Vamos ajudar os desabrigados

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