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A amiga do agente funerário

Diário de Pindorama

Texto, video e apresentação de Marcus Ozores

Diário de Pindorama, 27 de fevereiro de 2022, domingo esquisito de Carnaval e com o agogô a ritmar batucada imaginária continuo com o “Só a poesia nos Salvará” fazendo repicar o tamborim para demência geral da nossa desalmada Belíndia. E por isso continuo isolado na minha República Livre Anarquista dos Tupinambás de Barequeçaba.

Hoje o noticiário internacional acendeu a luz vermelha de alerta com a declaração de Pedro, o Grande, afirmando que colocou em alerta as unidades de misseis nucleares de médio e longo alcance. Imediatamente me lembrei da introdução do livro ‘ Guerra’ do historiador inglês Ian Morris.
Nesse momento acho propicio trazer para vocês alguns trechos dessa introdução, pois, o autor mostra que a nossa senhoria, a Gea, já esteve à beira de uma possível destruição total várias vezes. O texto que Morris retratada os perigos que ficaram desconhecidos do público e da imprensa na época tem como titulo:

“Amiga do agente funerário”

“Eu tinha 24 anos, quando quase morri em combate”.
(…)Eu estava na minha sala na Universidade de Cambridge e não tinha ideia de que, a 3.200 km dali, Stanislav Petrov decidia se ia me matar ou não. Petrov era o chefe adjunto para algoritmos de combate do Serpukhov-15. O centro nervoso do antigo sistema de alerta da União Soviética (…) e para minha sorte ele não era propenso a pânico.

(…) Era o dia 26 de setembro de 1983, por volta das nove e meia da noite (…) quando o alarme disparou por volta da meia-noite (horário Moscou) e Petrov pulou da cadeira(…) Uma luzinha vermelha piscou no imenso painel que Petrov tinha a sua frente apontando que um míssil havia sido disparado contra a União Soviética a partir do Estado norte americano de Montana (…) No entanto Petrov sabia que não era assim que deveria começar a Terceira Guerra Mundial, pois, ele havia programado o sistema de alarme e lançar um único míssil não fazia sentido(…) Instantes depois novo alarme (…) e a mensagem para todo o alto comando militar soviético(…) e novamente Petrov manteve sua posição e afirmou que deveria ser erro de algoritmo (…)

(…) Se os soviéticos tivessem lançado apenas os mísseis que mantinham apontado para alvos militares e se os Estados Unidos tivessem reagido na mesma moeda, eu teria sido uma das centenas de milhões de vítimas destruídas pelas explosões, queimadas ou envenenadas no primeiro dia de guerra (…)

(…) Mas a recompensa de Petrov por ter salvado o mundo não foi um peito cheio de medalhas, e sim uma repreensão oficial por apresentar um relatório mal escrito e não seguir os protocolos (…) Petrov foi rebaixado para cargo menos suscetível e em seguida pediu aposentadoria precoce, teve um colapso nervoso e mergulhou numa condição de pobreza quando a União Soviética se fragmentou e parou de pagar seus pensionistas idosos”.

Nós, os simples mortais, não passamos de peças de peão no tabuleiro de xadrez da geopolítica e viver ou morrer depende da jogada correta de um ou de outro jogador. Visto desse lado a vida parece um grande jogo do qual não fomos convidados. Por isso, é melhor que nos espelhemos na natureza e invejemos as árvores e as flores. Por isso que fui buscar no Pantanal os versos do poeta Manuel de Barros, o lapidador das palavras do nosso vernáculo.

O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.

Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

 

 

A Hidrel Hidráulica e eletrica apoia a Cancioneiro Caiçara

Marcus Ozores

Marcus Vinicius Pasini Ozores é fotógrafo, jornalista, apresentador de TV , mestre em Ciências Sociais e Pesquisador Associado na UNICAMP

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3 Comentários

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